20 novembro 2006

Dez coisas que seu gerente nunca vai dizer


Da revista Exame:

Ele resolve todos os seus problemas. É diligente quando você liga e
pede uma ajuda. Parece estar sempre atento a possíveis problemas.
Mas há coisas que o seu gerente de banco não revela. Um exemplo? O
fato de ele ver em você uma ótima oportunidade para cumprir as metas
de vendas do mês. Independente do que esteja sendo vendido.

Saiba as 10 coisas que seu gerente nunca vai dizer.


*"O que eu ofereço é sempre bom para o banco, mas não para você"
*Quem pensar no gerente do banco como um consultor financeiro
pessoal corre o risco de acabar fazendo péssimos negócios. Quase
todas as recomendações dos gerentes atendem aos interesses do banco,
não aos do cliente. Não é desonestidade pessoal, mas o resultado da
forma como os bancos trabalham. O gerente é um vendedor que tem
metas a cumprir para os principais produtos -- cheque especial,
títulos de capitalização, seguros, poupança --, e seu emprego
depende de atin gir essas metas todos os meses. Obviamente, as metas
são estabelecidas de modo que os produtos mais oferecidos sejam
aqueles que fazem o banco lucrar mais e, portanto, custam mais para
o cliente. O resultado é que, em um determinado mês, o gerente vai
jurar para você que os títulos de capitalização serão o melhor
negócio do mundo. No mês seguinte, será a vez da poupança e, depois
disso, virão os seguros. O principal problema é que essas
recomendações não costumam levar em conta nem o perfil de risco nem
as necessidades individuais de cada cliente. "Seja firme na hora de
dialogar sobre seus investimentos", diz Sérgio Galvão Bueno, sócio
da consultoria paulista LLA, especializada em finanças pessoais.
"Por mais persuasivos que sejam os argumentos, não compre o que o
seu gerente quer vender, a menos que o produto seja adequado a seu
perfil de investidor."


*"Vou cobrar diversas tarifas sem avisar"*
Muitas vezes os bancos escondem tarifas em seus serviços, que
somente serão notadas bem mais tarde, quando chegar a conta. O
analista de sistemas Delman Ferreira, de Brasília, imaginava que
financiar a compra de seu Polo zero-quilômetro em um banco seria
melhor do que parcelar na concessionária. As taxas costumam ser
menores, e é possível -- pensava Ferreira -- evitar gastos como a
taxa de abertura de crédito (TAC) cobrada pela financeira da
concessionária, normalmente muito superior àquela dos bancos. Por
isso, em fevereiro de 2006, Ferreira parcelou a compra em 60
prestações de 943 reais. Para pagar a primeira parcela, o analista
de sistemas abriu uma conta no banco e depositou 1 000 reais. Ao
consultar a instituição, dias depois, o analista teve a desagradável
surpresa de ver um saldo negativo de quase 300 reais. Além de
descontar de uma vez a contribuição provisória sobre movimentação
financeira (CPMF) referente ao valor total do carro, o banco cobrou
para manter o limite do cheque especial e a conta aberta. A emissão
de extratos também foi cobrada.


*"O juro dobra se você estourar o cheque especial"*
O cheque especial está entre os seis produtos mais rentáveis de
qualquer banco. Não é para menos. Em junho, segundo o Banco Central
(BC), os juros cobrados eram de 7,8% ao mês ou mais de 145% ao ano.
É uma taxa altíssima. O que poucos clientes sabem é que a conta fica
-- se é que isso é possível -- ainda mais salgada se os gastos
ultrapassarem o limite estipulado pelo banco. Nesse caso, o cliente
entra numa linha de crédito específica chamada Adiantamento a
Depositante, que tem uma taxa de juro de cerca de 15% ao mês, o que
representa estratosféricos 435% ao ano. O cliente também paga uma
tarifa média de 20 reais para cada cheque emitido nessas
circunstâncias. O peso disso em qualquer empréstimo pode ser
demonstrado por um cálculo simples. Imagine um cliente com limite de
cheque especial de 1 000 reais e que custa 7,8% ao mês. Se, por um
descuido, ele passar a dever 1 500 reais no cheque especial, terá de
pagar por mês 78 reais sobre o limite, 75 reais sobre o excesso de
limite e mais 20 reais referentes à tarifa. Contabilizando impostos
e CPMF, a fatura, só com os juros, vai para mais de 177 reais por
mês. Se cair mais um cheque, além dos juros, o banco vai cobrar
novamente a tarifa de 20 reais. São taxas elevadíssimas, mas sua
aplicação pelos bancos é perfeitamente legal. Por isso, a
recomendação é evitar ao máximo usar o cheque especial e nunca,
nunca superar o limite.


*"Sacar dinheiro com o cartão de crédito é caro"*
O cartão de crédito funciona como meio de pagamentos e como forma de
o banco emprestar dinheiro automaticamente para o cliente. Por isso,
quase todo cartão de crédito permite ao usuário sacar dinheiro em
caixas automáticos. Pouca gente sabe, porém, que os encargos que
incidem sobre essa operação são salgados. O saque é um empréstimo no
cartão, e as taxas médias são de 8% ao mês. Além disso, o usuário
paga de 1,95 a 8 reais por saque. O cliente que fizer três saques de
10 reais vai levar 30 em dinheiro e terá de pagar 24 em juros e
tarifas, 80% do total sacado. Esses detalhes constam do contrato do
cartão de crédito, mas poucas pessoas se preocupam em lê-lo.


*"Não conheço bem os produtos do banco"*
Em fevereiro de 2006, o engenheiro mecânico paulista e Ph.D. em
finanças Marcos Crivelaro decidiu investir 10 000 reais em um dos
fundos do banco onde tinha conta. Saiu da agência de mãos abanando.
Ele havia escolhido um fundo, mas seu gerente não conhecia o produto
-- e, portanto, ignorava que só está aberto para captação em quatro
dias no ano, das 10 às 15 horas. "Até pouco tempo atrás, o fundo não
constava nem da tabela de rentabilidade que o banco envia aos
clientes", diz Crivelaro.


*"Os juros do crédito imobiliário são o dobro do que parecem"*
Comprar um imóvel com financiamento do Sistema Financeiro da
Habitação (SFH) parece ser um ótimo negócio. Os juros variam de 6% a
12% ao ano, mais a variação da Taxa Referencial (TR), que costuma
ser menor que 3% ao ano. Aparentemente, são taxas muito mais
amigáveis do que a média das cobradas pelos bancos. Na prática,
porém, outros custos farão o mutuário pagar quase o dobro de juros.
Além dos juros, os bancos costumam cobrar uma taxa de administração
do contrato que varia de 12 a 80 reais. Além disso, o mutuário
geralmente tem de pagar dois seguros, um por morte ou invalidez
permanente e outro por danos físicos ao imóvel. Juntos, eles
representam cerca de 9% do valor da prestação, segundo cálculos do
professor Rafael Paschoarelli, doutor em finanças pela Universidade
de São Paulo e autor do livro A Regra do Jogo (Editora Saraiva, 180
págs.). Há mais duas taxas no financiamento: a de vistoria do imóvel
e a de verificação da documentação. Além disso, o mutuário deve
pagar o imposto de transmissão de bens intervivos (ITBI),
equivalente a 2% do valor do imóvel, para que o dinheiro do
financiamento seja liberado. Para ter idéia do peso desses
adicionais, Paschoarelli simulou um empréstimo de 150 000 reais com
taxa de 12% ao ano mais TR. "O comprador paga cerca de 15 000 reais
a mais nesses penduricalhos, além dos juros", diz ele. Sua
recomendação é fazer as contas com cuidado.


*"Pagar dívidas antes do prazo custa dinheiro"*
O cliente endividado que resolver quitar seu débito com o banco fará
um mau negócio. Nesse caso, o banco deverá cobrar uma Tarifa de
Antecipação de Crédito, que, na média, é igual a 10% do valor a ser
quitado. "Para o banco, não é interessante que você pague a dívida
antecipadamente porque, nesse caso, ele não vai receber os juros das
parcelas restantes", diz Ricardo Almeida, professor do Ibmec São
Paulo. "Se o cliente antecipar o pagamento, o contrato tem de ser
revisto, o que gera custo para o banco." Segundo ele, o cliente tem
direito de obter desconto na taxa de juro, mas dificilmente deixará
de pagar a Tarifa de Antecipação de Crédito.


*"Meus fundos de varejo conservadores rendem pouco"*
Quando oferecem um fundo de investimento conservador a seus
clientes, muitos gerentes comparam a rentabilidade do fundo com a da
caderneta de poupança. "Como a poupança rende muito pouco, um fundo
ruim parece ser um excelente investimento quando comparado a ela",
diz William Eid Júnior, diretor do Centro de Estudos em Finanças da
Fundação Getulio Vargas de São Paulo, que realizou a avaliação dos
fundos no Guia EXAME de Investimentos Pessoais. Para evitar ser
enganado por essa distorção, o cliente deve tomar um cuidado
específico na hora de investir. Nesse momento, a rentabilidade dos
fundos DI ou de renda fixa -- os mais conservadores do mercado --
deve ser comparada à variação das taxas do Certificado de Depósito
Interbancário (CDI), que balizam as operações realizadas entre
bancos. Outro cuidado é prestar atenção na taxa de administração,
que é a remuneração cobrada pelo gestor do fundo para administrar o
dinheiro. Essa taxa é um percentual do total investido, e será
cobrada todos os dias, independentemente do desempenho do fundo.
Vale aqui uma velha regra do sistema bancário: quem tem menos
dinheiro paga mais caro. Fundos de investimento mais populares,
aqueles com depóstivo inicial mínimo de até 1 000 reais, costumam
cobrar as taxas de administração mais altas, que podem chegar a 5%
ao ano. Nesses casos, sempre vale a pena perguntar ao gerente qual é
a taxa de juro paga para aplicações em renda fixa, como os
Certificados de Depósito Bancário (CDB), e compará-la com o
desempenho do fundo.


*"A previdência privada custa mais do que você imagina"*
Responda rapidamente: qual é a taxa de administração de seu plano de
previdência privada? E a taxa de carregamento? Não se sinta mal por
não saber o que esses nomes significam. Milhares de investidores
ignoram que os bancos cobram um percentual do patrimônio para gerir
o dinheiro (a taxa de administração) e um "pedágio" sobre cada nova
aplicação, para cobrir os custos operacionais (a taxa de
carregamento). A taxa de administração oscila entre 1% e 4% do total
investido, sendo que a média é de 2,3% ao ano. A taxa de
carregamento pode variar de 0,5% a 10% de cada aplicação. Sua média,
atualmente, é de 3,3%. Os planos de previdência também podem cobrar
uma taxa de saída, que incide sobre os valores resgatados e, na
maioria das vezes, é de 0,38% sobre o montante resgatado. "Juntas,
essas três taxas, mais o imposto de renda sobre os rendimentos ou
sobre o total resgatado, que oscila de 10% a 35%, podem corroer a
rentabilidade do plano", diz Marcelo D'Agosto, consultor da
Investmate, consultoria especializada em finanças pessoais, de São
Paulo. Como a previdência privada é uma aplicação de longo prazo por
excelência, vale muito a pena procurar as menores taxas: a diferença
é brutal depois de 15 ou 20 anos. Por exemplo, o investidor que
tiver 1 milhão de reais aplicado vai pagar aproximadamente 10 000
reais por ano a mais a cada ponto percentual suplementar de taxas
cobrado pelo banco.


*"Capitalização é um péssimo negócio"*
Um cliente que precise elevar seu limite de cheque especial pode ser
"convidado" a comprar um título de capitalização para oferecer
"reciprocidade" ao banco. "Os títulos de capitalização são a pior
besteira que você pode fazer com seu dinheiro", diz o professor
Rafael Paschoarelli. A capitalização mistura poupança com loteria,
em que o investidor tem a chance de ganhar prêmios em dinheiro
sorteados entre os clientes. "A capitalização é um investimento ruim
e um jogo ineficiente, pois quem administra essa loteria cobra
caro", afirma Paschoarelli. "É melhor arriscar na Megasena."