O Ano de 2058
Ontem eu atendi uma criança que pesava um quilo. O nome do cidadão é Dimitri e ele é forte, apesar de ter nascido prematuro. Teve um probleminha na mão, mas vai ficar bom.
Mas o que tem isso a ver com o ano de 2058? É mais ou menos assim: sozinho no carro, voltando para casa, eu pensava no fato de que ele provavelmente nunca saberia que aquilo tinha acontecido com ele. O único jeito daquele fato ter alguma repercussão na vida dele seria se um dia ele precisasse daquela arteriazinha para alguma coisa, como por exemplo para fazer hemodiálise. A arteriazinha do Sr. Dimitri, respeitável cidadão em 2058, acometido por diabetes e insuficiência renal, poderia deixá-lo na mão, e ele jamais saberia o porquê. Diriam-no que algumas pessoas não têm a arteriazinha e pronto.
Em 2058, mesmo Dimitri já não será jovem, nem forte, nem símbolo de esperança. Poderá ser um cinqüentão decadente enfrentando suas primeiras doenças crônicas. A maioria de nós já terá ido. Alguns para o outro mundo, outros para a China estudar chinês, que já será a segunda língua mais falada no Brasil.
Esses pensamentos botam a gente comovido como o diabo, e não precisa de lua nem de conhaque.
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